Já dizia o mestre Ariano Suassuna: "O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso".
Você enxerga o copo meio cheio ou meio vazio?
Quem nunca foi esse tolo, ingênuo, mencionado por Suassuna? Vendo o copo meio cheio…
Quem nunca foi acometido pela chatice ácida do pessimismo, ligando o modo ranzinza que só vê o lado mau da vida? Vendo o copo meio vazio…
Raros, mesmo, são os que enxergam o copo como ele é, metade com água e metade sem água. Porém, sabedor de que cabe mais água. Consciente de que nada é bom ou ruim, tudo depende da nossa percepção e de como permitimos que o que acontece conosco nos afete.
Parece que uma nuvem de pessimismo e ingratidão vem nos afetando, muito provavelmente como um dos efeitos nocivos do processo pandêmico que tem colocado nossos nervos à prova.
Estamos com dificuldade de sentir gratidão. Estamos com dificuldade de expressar gratidão. Parece que estamos apenas sobrevivendo.
É preciso viver abundantemente a gratidão. Ser grato nas mínimas situações do cotidiano é vitamina que fortalece nossa esperança. Nos automotiva e empurra para frente com a cabeça erguida.
Quem vive num nível de exigência extrema da vida não aprecia a caminhada porque só foca no destino. Essa eterna insaciedade é frustrante, rouba nossa energia e nos atrofia.
Ser grato, apesar das dificuldades, é ao mesmo tempo tecer uma nova realidade, a partir do reconhecimento daquilo que está em mutação para melhor em todos os lugares, basta procurar apurando a percepção.
Ser um realista esperançoso é entender que há mais coisas entre o céu e a terra do que possa imaginar nossa vã filosofia. É transcender a visão maniqueísta. É reconhecer que os problemas existem, mas ter a certeza absoluta (fé) que com as atitudes adequadas as coisas podem mudar para melhor.
É conjugar o verbo Freiriano: ESPERANÇAR. Ir atrás, não desistir, não se conformar. Ser capaz de buscar o que é viável para fazer o inédito.
Reflitamos, por exemplo, em alguns aspectos recentes da educação pública municipal de Altamira. Oito anos sendo massacrados, perseguidos e tendo direitos retirados pela gestão anterior. Bradou-se: A ESPERANÇA VAI NOS LIBERTAR! Em 2021 não houve reajuste do piso salarial dos professores, escolas fechadas e os conhecidos obstáculos de das aulas remotas. Mas teve vacina da covid-19, aulas presenciais escalonadas e rateio do FUNDEB para todos os trabalhadores da educação de Altamira. Em 2022 teve credlivro para os professores, teve aumento da implementação da hora atividade de 20% para 33% e teve o aumento da atualização do piso salarial em 33,24%. Sendo que a prefeitura de Altamira concedeu o aumento acima desse percentual saindo de 2.886 para 4000 reais, ou seja, mais de 38%.
Motivo de muita celebração e gratidão no meio educacional.
Mas aquele que enxerga o copo meio vazio vai reclamar, vai dizer que o aumento foi de apenas 4,76% ou pouco mais de 100 reais…
Já o realista esperançoso vai jubilar de alegria porque permite-se viver o agora, porque sabe que há municípios que não vão ter essa mesma experiência. Porque sabe que tem governante que mesmo com decisão judicial favorável ao pagamento do piso não concede o aumento e segue protelando na justiça. Ter a humildade de agradecer só nos engrandece, rejuvenesce e fortalece nosso espírito para conquistas maiores. Quanto mais agradecemos, mais coisas boas atraímos.
A ingratidão é uma lepra. É só lembrar do episódio em que Jesus curou dez leprosos e apenas um retornou para agradecê-lo. Triste estatística, o dízimo. Jesus chama atenção para o fato de 90% ser ingrato.
Não estamos aqui pregando a docilidade dos corpos nem pintando o pacato cidadão. É um chamado à criticidade coerente.
Fiquemos com a lição do profeta Habacuque quando diz: “Ainda que a figueira não floresça, nem haja uvas nas videiras; mesmo falhando toda a safra de olivas, e as lavouras não produzam mantimento; as ovelhas sejam seqüestradas do aprisco, e o gado morra nos currais, eu, todavia, me alegrarei no SENHOR, e exultarei no Deus da minha salvação!” (Hb 3:17-18)
Em tudo dai graças!
*Wangner Lopes *
_Professor, escritor e acadêmico de psicologia_
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